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DESAPARECIDOS EM BELFORD ROXO | 6 Meses sem respostas: Onde estão os meninos desaparecidos de Belford Roxo?

Esta semana completou 6 meses que Lucas Matheus (8 anos), Alexandre (10 anos) e Fernando Henrique (11 anos) desapareceram em Belford Roxo quando saíam para brincar. A polícia demorou 3 meses para achar uma imagem de vídeo e após 4 meses o MP abriu uma força tarefa.

Samyr RangelProfessor de Geografia no Rio de Janeiro

sexta-feira 2 de julho de 2021 | Edição do dia

6 meses. É a metade de um ano. Para duas famílias de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, esses 6 meses têm sido um pesadelo, daqueles pra se considerar o pior de suas vidas. Este é o período em que Lucas Matheus, de apenas 9 anos, seu irmão Alexandre Silva, de 11 anos, e seu amigo Fernando Henrique, 12 anos, estão desaparecidos.

Desde o primeiro dia do sumiço das crianças suas famílias se dirigiram a delegacia para dar parte do sumiço e já desde este dia se sente o peso gritante do racismo em suas vidas. Assim que lá chegaram foram mandados de volta para casa, sob alegação que deveriam aguardar 24 horas para dar parte do desaparecimento, o que contraria as normas de buscas de paradeiros atuais, que indicam a pronta procura, ainda mais em casos de menores de idade.

Desde então iniciou-se uma saga solitária para estas famílias entre delegacias, depoimentos, buscas nas ruas, etc. A atuação da polícia mostra que seu papel real é repressão e morte contra os negros e pobres. A falta de respostas mostra o descaso total num caso que, sequer podemos nomeá-lo como uma “investigação”. Demoraram mais de 4 meses para coletar imagens de câmeras de vídeos de ruas próximas de onde os meninos poderiam ter sumido.

Esta demora só aumenta a angústia da família, que sente que seus filhos de nada valem para o Estado. Em diversas entrevistas estas mães demonstram seu desespero depois de 6 meses sem nenhuma pista alguma. A avó de dois destes meninos,Silvia Regina da Silva, disse numa destas entrevistas, ao G1: "Minhas filhas vão sempre à delegacia tentar saber de algo, mas a polícia diz que não tem pista nenhuma. Acho estranho não ter nada. Ou às vezes acho que eles não querem passar o que sabem para a gente".

Em outra entrevista estes familiares também disseram que “se os três [meninos] fossem brancos e ricos esse desaparecimento não seguiria tanto tempo sem respostas”.

Uma das mães se revoltou inclusive com a tese aventada pelo delegado que acusa as crianças de serem “ladras” de um passarinho de um traficante da região, usando isso como justificativa, extremamente racista como é a praxe policial, como alegação ao sumiço. “Meus filhos e os outros garotos foram criados com educação em casa, aprenderam a não roubar e nunca mexeram em nada que não pertencia a eles. Como são pretos e pobres, fica fácil rotular eles como ladrõezinhos de rua. Agora nas redes sociais fica todo mundo compartilhando essa mentira e dizendo que eram ladrões. Fazem isso porque a polícia falou e porque é fácil, afinal moram em comunidade. Nós estamos revoltadas e não concordamos, essa história é mentira”.

O ódio justificável desta mãe perpassa a história de milhares de outras mães pelo Brasil, que além de lutar por justiça, em muitos casos também lutam pela memória de seus filhos, que se veem vítimas das mais variadas táticas racistas perpetradas pelo estado, a polícia e também por reacionários estúpidos que bradam e veiculam essas imbecilidades pelas redes sociais e também na TV.

No estado do Rio, o reacionário Governador Cláudio Castro apoia a brutalidade policial e os assassinatos nas favelas e é responsável também pelas famílias seguirem sem nenhuma resposta do desaparecimento dos meninos.

Que as famílias sejam indenizadas pelos danos causados nesses 6 meses de busca por seus filhos. Para as mulheres negras e trabalhadoras, a luta por justiça muitas vezes vem acompanhada da perda do emprego, dificuldades financeiras, além de vários outros problemas psicológicos e sociais, e é assim que se encontram as famílias dos meninos.

Num Estado em que a polícia atua diretamente junto às milícias e o tráfico de drogas, onde a justiça garante a impunidade de policiais assassinos, não podemos ter nenhuma confiança de que daí saiam respostas.

Por isso defendemos uma investigação independente, na qual o estado disponibilize todos os recursos necessários para dar prosseguimento às investigações, como câmeras públicas, depoimento dos familiares, etc. E que essa investigação seja composta por ativistas dos movimentos de favelas, movimentos negros, moradores da comunidade do Castelar(onde os meninos moravam), familiares e amigos dos desaparecidos.

Exigimos a aparição com vida dos Fernando Henrique, Alexandre e Lucas Matheus. Pelo fim das operações policiais e que seja suspenso imediatamente o sigilo sobre a Chacina da favela do Jacarezinho.

Nós do Esquerda Diário prestamos nossa solidariedade e apoio a estas famílias e também nos colocamos à disposição como veículo de denúncia e ferramenta de luta por justiça.




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