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Editorial MRT | 5 lições de 2021 para um novo ano de luta e resistência da nossa classe

2021 chegou ao fim, que lições nós trabalhadores, jovens, mulheres, negros e LGBT´s podemos tirar para nossa organização, luta e resistência em 2022?

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quarta-feira 15 de dezembro de 2021 | Edição do dia

O ano termina com alta dos preços, fome, alagamentos, desemprego e todos os efeitos da pandemia por todo o mundo. Mais um ano em que os capitalistas dão passos para descarregar a crise sobre nossas costas, com a ajuda dos governos que gerenciam todos os ataques, reformas e privatizações no Brasil e em vários países. A crise econômica internacional continua forte e tende a dar espaço a novas explosões sociais mundo afora. No Brasil, este foi o terceiro ano do governo Bolsonaro no poder destilando seu ódio de classe contra a população pobre e para isso contando com todas as instituições do regime, como o Congresso Nacional e o STF, além de muitos governadores, que avalizaram e foram parte da aplicação de grande parte destes ataques, apesar dos discursos e medidas demagógicas de oposição. A retrospectiva desse 2021 cheio de ataques, mas também de embrionárias lutas operárias, de juventude e indígenas fizemos no último episódio do ano do programa semanal de análise O Brasil não é para amadores. Aqui, buscaremos sintetizar algumas lições que o ano de 2021 nos deixa para, neste novo ano, nos organizarmos e enfrentar também os novos ataques.

1) A extrema-direita é uma força social no Brasil que não será derrubada só com eleições e sem luta

Os atos do dia 7 de setembro marcaram uma inflexão na política do governo de maior enfrentamento às instituições do regime, inflexão que durou alguns dias com um recuo parcial de Bolsonaro através da “carta" articulada por Temer. Para além da aparência de fragilidade do governo, o episódio deixa claro que a extrema-direita não é apenas o governo Bolsonaro, mas que há uma força social de milhares com capacidade de mobilização nas ruas, como vimos em São Paulo e no Distrito Federal. Portanto, os que se deram por satisfeitos com o recuo de Bolsonaro não estão calculando que essa base social, com seu núcleo mais duro, não irão retroceder de seus objetivos pelas vias “institucionais”, nem mesmo pelas eleições. Porque se trata de uma força social que veio se consolidando ao longo dos últimos anos, é uma expressão da radicalização burguesa após a crise de 2008 e, no Brasil, em especial a partir do golpe institucional de 2016 que, articulado pelo imperialismo norte-americano com a direita à frente, foi abrindo espaço para que estas forças sociais da extrema-direita pudessem tomar corpo e se instalar no país. Portanto, uma primeira lição de 2021 é que a extrema-direita só será derrotada através da imposição de uma nova correlação de forças no país, que vai depender do grau de mobilização da classe trabalhadora junto com a juventude e os movimentos sociais para derrotar na luta de classes a extrema-direita.

2) Todas as instituições do regime estão unidas para implementar ataques

Derrotar a extrema-direita com a luta organizada dos trabalhadores pressupõe, também, entender a configuração atual do regime político do país, do contrário a chance de subordinar a luta da classe trabalhadora a distintas variantes burguesas é muito grande. Neste sentido, ainda que rechaçemos com toda nossa força essa extrema-direita asquerosa, não podemos deixar de ver o papel que instituições do regime cumpriram para que tenhamos chegado até aqui. O STF e o Congresso Nacional, junto a grande parte dos governadores, foram pilares do golpe institucional atuando sob a pressão de tweets de militares que rememoram o lixo da história de nosso país que foi a ditadura militar. É por isso também que não podemos nos enganar com os embates entre o STF e Congresso Nacional contra Bolsonaro, e vice-versa, nem considerar que algumas posições que queiram se apresentar como "progressistas" em relação aos temas democráticos signifiquem uma política diferente no que diz respeito às questões econômicas. Com visões e posições distintas, todas instituições do regime estão junto com Bolsonaro para garantir a implementação de um plano de ajustes contra a classe trabalhadora e o povo pobre. São reformas que não param de surgir, privatizações por todo o lado, retirada de direitos, precarização do trabalho e ataques também aos direitos das mulheres, negros e indígenas. Por isso, uma lição de 2021 é que organizar toda a nossa luta em torno da bandeira do impeachment é defender uma saída por dentro desse regime político, e na prática terminou se limitando a uma política de desgaste eleitoral de Bolsonaro rumo às eleições do próximo ano, não uma política efetiva de derrubada do governo. Por isso lutamos por Fora Bolsonaro e Mourão e por uma nova Constituinte que seja livre e soberana para mudar as regras do jogo e não apenas os jogadores.

3) Unidade de ação com a direita como política nos leva a um beco sem saída

A busca de uma unidade burguesa para garantir a implementação dos ataques fortalece a chamada “terceira via” que está em disputa por distintos setores, como João Doria e Sérgio Moro, a fim de aparecerem como uma “alternativa” frente à polarização “Lula x Bolsonaro”. Sérgio Moro foi o juiz da Operação Lava Jato, que se tornou “herói” da direita e da extrema-direita. João Doria esteve junto com Bolsonaro para ser eleito. São todos parte de uma direita golpista responsável pela situação na qual se encontra o Brasil. Mas agora, órfãos de Bolsonaro, vieram buscando na palavra de ordem do impeachment uma saída para sua política de garantir melhores condições de nos atacar. Por isso alguns setores da direita golpista passaram a frequentar palanque (como o do “Superimpeachment”) com o PT, PCdoB, PSOL, PCB e UP e a buscar participar das manifestações pelo “Fora Bolsonaro”. Entretanto, o objetivo da direita golpista é tirar Bolsonaro pra melhor atacar a classe trabalhadora com uma “cara democrática”. Manifestações massivas nas quais a direita queira se colar para desvirtuar seu conteúdo e impedir que assumam um programa de questionamento às reformas e privatizações já ocorreram e podem voltar a ocorrer, e é papel da esquerda desmascarar e denunciar seus objetivos, o que é muito diferente da própria esquerda ter como política um chamado a que a direita se unifique às mobilizações contra o governo. Uma lição de 2021 é que essa política se mostrou equivocada em essência, já que esvazia o conteúdo da nossa luta, mas também se mostrou equivocada na prática uma vez que as manifestações diminuíram justamente quando se conquistou a suposta “amplitude” de unidade.

4) As centrais sindicais cumpriram o nefasto papel de contenção, desorganização da luta e seguem em trégua com o governo

Durante todo o ano as centrais sindicais cumpriram o papel nefasto de conter e desorganizar a luta. Com chamados a atos espaçados no tempo, um por mês, sem um plano de luta real e efetivo, sem uma articulação nas estruturas operárias e estudantis. O que vimos foi as burocracias desgastando a energia que se expressava nestas manifestações. A cada ato as pessoas iam para as ruas, entretanto o conteúdo que encontravam nas manifestações, imposto pela maioria das direções, não era o de uma mobilização que avançava num crescente de luta e sim um conteúdo bastante eleitoral, com o qual as manifestações funcionariam apenas como pressão ao Congresso Nacional pelo impeachment e de espera passiva para as eleições de 2022. Durante todo o ano houve muitas lutas parciais em todo o país. Metroviários de São Paulo, garis do Rio de Janeiro, trabalhadores da construção civil na MRV, Sea Towers e outras, rodoviários de diversas cidades lutando por vacina e em Porto Alegre fazendo greve contra a privatização da Carris, professores de diversos estados, trabalhadores da Proguaru em SP, aeronautas e outras categorias pelo país. Em cada um desses processos, as burocracias cumpriram não somente o papel de impedir que essas lutas avançassem num sentido político de enfrentamento ao governo, mas também garantiram que cada uma ficasse isolada, sem nenhuma política de unificação e coordenação. Durante todo esse período a maior parte da esquerda, como o PSOL, UP, PCB e também o PSTU esteve em uma política de convivência pacífica com as burocracias sindicais. Exemplo disso foi a falta de uma batalha da maioria dessas organizações diante do desmonte da última manifestação do dia 15 de novembro que, ainda que carregasse o mesmo conteúdo eleitoral, era uma medida parcial de mobilização na qual se poderia disputar a política correta. Portanto, uma lição necessária a se tirar é que a esquerda precisaria ter uma forte política de denúncia e exigência a que essas burocracias saiam da paralisia e trégua pra organizar uma efetiva resistência a todos os ataques e mazelas que sofre a população pobre. Agora o governo já encomendou uma nova nefasta reforma trabalhista e sindical, é preciso urgentemente tirar essas lições e barrar mais esse ataque.

5) A conciliação de classes petista não é uma alternativa, é preciso independência de classe

Como viemos apontando em diversas análises, também chegamos até aqui pela política de conciliação de classe petista, que durante seus governos abriu caminho aos setores mais reacionários da política nacional, fortalecendo o agronegócio, as forças armadas, o judiciário e a bancada evangélica. Para tal, direitos foram rifados em nome de uma suposta governabilidade que em realidade vai pra além da conciliação: se trata de um projeto de país para administrar o capitalismo. Um novo governo Lula em 2022, com o tamanho da crise econômica em curso, já deixou claro que irá administrar toda a obra do golpe institucional inclusive de forma unificada com a direita, como fica clara na possível chapa Lula-Alckmin. Neste sentido, se coloca em curso um novo marco estratégico no país, no qual os efeitos da política em 2022 devem ser vistos de maneira estratégica, pensando a partir dessas novas configurações da política nacional, com uma extrema-direita com peso de massas, para onde irá o país, o que coloca maiores cenários de instabilidade e prováveis explosões sociais. É neste cenário que as tarefas preparatórias de uma esquerda com independência de classe se colocam como urgentes, ainda mais quando vemos grande parte da esquerda, como a maioria do PSOL, subordinada politicamente ao PT. Também que se faz necessária a unidade dos setores da esquerda que também enfrentam a política petista e por isso construímos o Polo Socialista e Revolucionário, que em nossa visão deve expressar uma unidade na luta de classes com um programa pra que sejam os capitalistas que paguem pela crise, podendo ser essa atuação a base para uma frente eleitoral inspirada na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade da Argentina (FIT-U).

Com essas lições dialogamos com os leitores do Esquerda Diário, deixando também um chamado a defender essa política, mas também a construir nossa rede de diários e todas as iniciativas multimídia que viemos levando adiante neste último ano.




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