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RIO DE JANEIRO | 3 meses de greve de professores e ocupações de estudantes: tirar lições para mudar os rumos da luta urgentemente

Um importante movimento da educação está acontecendo nacionalmente com greves nas universidades estaduais paulistas, na UERJ, escolas ocupadas em vários estados. No RJ os profissionais da educação fazem três meses da mais longa greve da rede estadual.
A greve foi marcada por uma onda de ocupações em mais de 70 escolas em apoio aos professores e contra a precarização da educação. Neste momento estes dois movimentos estão em um momento decisivo.

Carolina CacauProfessora da Rede Estadual no RJ e do Nossa Classe

Ronaldo FilhoProfessor da rede estadual do RJ

sexta-feira 3 de junho de 2016 | Edição do dia

Depois de 3 meses de greve a Secretaria de Educação e o Governo Pezão/Dornelles atuaram de todas as formas para atacar os professores e os estudantes. A estratégia nas negociações é de desgaste e promessas que nunca são homologadas ou publicadas oficialmente. As pautas da categoria, eleição para direção de escolas, 30 horas para os funcionários administrativos, o fim da avaliação do SAERJ, o governo promete atender se a greve terminar.

O reajuste salarial segue sendo negado pelo Governo Pezão/ Dornelles, os mesmos que concederam mais de R$ 138 bilhões em isenções para empresas e afundaram o Rio de Janeiro numa enorme dívida. A justiça ainda não se pronunciou sobre a votação do dissídio, deixando em aberto quando vai avançar com o ataque do corte de ponto.

Com os estudantes, a Justiça decidiu prosseguir o caminho de ataques. O movimento Desocupa, impulsionado pela Seeduc e direções das escolas, ganhou contornos proto-fascistas com todos os tipos de ataques as escolas ocupadas, como foi no Colégio Mendes de Morais. Culminou na violenta desocupação da Seeduc contra estudantes e alunos. Os estudantes ocupam novamente a Seeduc neste momento e a polícia cerca o prédio.

Após a audiência no dia 01/06, a juíza Glória Heloisa Lima da Silva, decidiu em uma reunião a portas fechadas, que as aulas nas escolas ocupadas do Rio de Janeiro deveriam voltar. A decisão não só suspende as férias dadas às escolas ocupadas, como autoriza a ação repressiva da Polícia Militar e do Ministério Público. Esta decisão é mais um passo na escalada repressiva do governo do estado contra o movimento de escolas ocupadas do RJ. No dia de hoje várias escolas começaram as desocupações, sem garantia das pautas atendidas, podendo se estender pelas demais.

Em meio a uma situação nacional de avanço dos ataques do governo golpista do Temer, mas também de uma onda de juventude e ocupações é fundamental se questionar porque uma histórica greve e inéditas ocupações de escolas no RJ chegam nesse cenário duro de inflexão? Com tantas lutas em curso é necessário questionar porque não emergiu do RJ, nem estadualmente uma forte luta pela educação.

Desde o início da greve viemos demonstrando que essa importante greve não podia fazer uma separação mecânica da situação política nacional, das pautas pedagógicas e econômicas. Essa situação se mantém até hoje por decisão das correntes de esquerda que dirigem o SEPE, fazendo com que qualquer debate nacional se dê de forma despolitizada nas assembleias. Qualquer luta nessa situação concreta, que separe o sindical do político está ou servindo para que se estabilize o governo do Temer golpista, ou para que o PT se recomponha nas eleições. Esta ação significou não preparar a categoria para responder aos ataques do golpismo do PMDB, que é o mesmo partido que governa o Rio. Seria cômico se não fosse trágico. Querem tratar o problema da educação do Rio por fora da crise do estado e do país. Graças a esta política estamos mais fracos e frente a esta difícil situação na greve.

O SEPE levou nossa greve a um beco sem saída

A inflexão que a greve encontra neste momento é de responsabilidade da direção do SEPE que atuou sistematicamente de forma rotineira e sem um plano de luta efetivo. O esvaziamento político dos debates da assembleia, a falta de uma unificação real com a base das demais categorias e uma coordenação dos comandos de greve, dirigidas pela base, foi uma ausência fundamental que manteve a greve isolada e que impediu que as lutas se unificassem e pudessem ter ações que se colocasse como uma vitrine de luta para todo o país.

As assembleias servem apenas para decidir quando será a próxima assembleia e local. Em resumo servem para nada, sem debate real alijam os professores de qualquer decisão sobre sua greve. A prática de basear as ações da greve em atos que são feitos nas sedes das instituições do governo para fazer pressão, é uma mostra clara deste rotineirismo. É não dar uma batalha a altura dos ataques que os governos querem impor. É não fazer valer o peso de massas que essa categoria, é não ter um plano de luta.

A total deslegitimação do comando de greve como ferramenta política pelas direções do SEPE enfraqueceu o ativismo e participação na greve. Estes ficam de espectadores dessa luta. A negativa sistemática de ações de radicalização, como parar ao mesmo tempo importantes avenidas poderiam ser ações que permitiriam mudar a correlação de forças com o governo.

Neste momento é urgente debater as lições necessária para agir na corrida contra o tempo contra o governo do Estado, aproveitar cada momento com um plano que leve a educação à vitória. Fortalecer as ocupações que permanecem e apoiar a resistência dos secundaristas, cercar de solidariedade dando todo apoio material, política e que o SEPE tome a frente disso. Tomar ações radicais para parar o Rio, superar esta separação de nossa pauta e a discussão política de como derrotar os golpistas em Brasília e aqui no Rio.

Para a luta da educação no Rio se enfrentar efetivamente com os ataques é preciso de ações não somente dos professores mas também dos estudantes. Por isso, é chave que os estudantes de todas as escolas ocupadas se reúnam para debater suas ações e para que nenhuma escola atue de forma isolada.

Com outra política entre os estudantes e professores é possível uma verdadeira aliança para se enfrentar com Pezão e Dornelles. Ainda há tempo de tirar lições da greve e tentar urgentemente mudar seus rumos.




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