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UM PRIMEIRO BALANÇO | 29M: Uma importante jornada de protesto, apesar do corpo mole da burocracia sindical

Balanço da jornada nacional de luta. Por que a atuação da CUT é um obstáculo para que se efetive uma verdadeira paralisação nacional que obrigue o governo a recuar dos ataques? O papel da esquerda e os próximos passos para realmente barrar os pacotes de ajuste de Dilma.

Daniel MatosSão Paulo | @DanielMatos1917

sábado 30 de maio de 2015 | 17:59

A classe trabalhadora protagonizou uma importante jornada de protesto neste dia 29 de maio . Ocorreram manifestações em todas as capitais do país e no Distrito Federal, com bloqueios de rodovias importantes, que deram maior visibilidade ao movimento, e paralisações de algumas categorias. A confluência com greves de servidores públicos que se alastram a quase todos os estados em resistência à política de ajustes aplicada tanto pelo PT como pelo PSDB permitiram que as manifestações mobilizassem contingentes significativos de trabalhadores, com protagonismo dos professores e agora com a adesão das universidades federais e a entrada do movimento estudantil em cena. A jornada contou com um importante apoio da população, em especial dos milhões de trabalhadores precarizados que são os mais prejudicados com os ataques do governo.

Nos transportes públicos de alguns centros metropolitanos, entre os petroleiros de algumas refinarias, metalúrgicos do ABC Paulista e de São José dos Campos, bancários de várias agências de São Paulo, além de outros setores pontuais, desde os atrasos na entrada do trabalho até paralisações de 24hs, de conjunto se verificou uma importante disposição de luta da classe operária. A luta estudantil nas universidades estadual e federal do Rio de Janeiro devido aos ataques mais agudos que sofre o ensino superior nesse estado se destaca como expressão mais avançada de um movimento estudantil universitário que começa a ressurgir nacionalmente em resistência aos cortes de verba na educação. Centenas de estudantes estiveram presentes nas manifestações que marcaram o dia de protesto em todo o país. O protagonismo dos trabalhadores e da juventude se combinou com protestos do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST), que ocupou várias agencias bancárias da Caixa Econômica Federal reivindicando verbas para moradia, assim como do MST no bloqueio de algumas estradas.

As principais demandas que sobressaíram de toda a jornada foram o rechaço à lei das terceirizações, às MPs 644 e 645 que retiram vários direitos dos trabalhadores, aos cortes nas verbas destinadas à educação, à saúde e à moradia e às demissões que se alastram na indústria. Ou seja, foram jornadas de repúdio aos pacotes de ajuste que Dilma vem implementando nacionalmente, em comum com o PSDB como se mostra nos governos estaduais de São Paulo e Paraná.

Em vários lugares a polícia reprimiu duramente as manifestações, como em Recife onde vários sindicalistas foram presos. A repressão mais dura foi descarregada sobre trabalhadores e estudantes da USP http://www.esquerdadiario.com.br/VI..., que foram atacados com bombas de efeito moral e balas de borracha, terminando com vários feridos e um estudante preso.

O governo petista, os governos tucanos e a casta política em geral fecharam os olhos para a jornada de luta, como se não fossem com eles. Enquanto os trabalhadores expressam nas ruas seu descontentamento, nos gabinetes do poder os políticos dominantes não só tratam de implementar os pacotes de ajuste, mas também buscam implementar leis reacionárias como a que reduz a maioridade penal, a que institucionaliza o financiamento empresarial das campanhas eleitorais e a que restringe a expressão política das organizações de esquerda.

Se quisesse, a CUT poderia ter parado o país contra os ajustes

A Força Sindical, que vem apoiando a lei das terceirizações e servindo de capacho para a oposição de direita tucana, diretamente boicotou a jornada nacional de luta, mostrando-se como avalistas dos interesses de seus amos, que são os capitalistas que se beneficiam com a política de ajustes. Já a CUT, por sua vez, apesar de ter convocado o dia de protesto e organizado várias ações, “a partir de dentro” vem utilizando a mobilização a serviço de seus próprios interesses, que subordinam os interesses dos trabalhadores à defesa do governo petista do qual fazem parte.

A disposição de luta expressa ao longo da jornada demonstrou mais uma vez que não se constrói uma verdadeira paralisação nacional porque a burocracia cutista contém a mobilização de suas bases para não gerar maiores enfrentamento contra o PT. Em toda a preparação da jornada, assim como nas manifestações do dia 29, as direções da CUT se esforçaram para defender “seu” governo, criticando as medidas mais direitistas do ajuste com o objetivo de manter sua autoridade junto aos trabalhadores descontentes, preservar minimamente a imagem do PT para as eleições municipais de 2016 e articular a candidatura de Lula para 2018.

Assim, a CUT, ao mesmo tempo em que critica os ataques mais brutais aos direitos dos trabalhadores, coloca a necessidade de “defender a democracia”, como se esta estivesse sendo ameaçada pela oposição de direita. Como isso, busca distrair o foco das atenções dos trabalhadores sobre a responsabilidade de Dilma e do PT sobre os ataques em curso, como se os mesmos fossem obra de uma “direita golpista”. Obviamente, fazem de tudo para esconder que Dilma e Lula são os principais avalistas de Levy; e que sob o lulismo a quantidade de terceirizados formalmente registrados no país subiu de 4 milhões para 12,7 milhões.

Entretanto, o descontentamento de amplos setores de massa com os ataques é tal que a burocracia cutista não foi capaz de fazer com que a defesa do governo fosse uma das marcas mais visíveis da jornada de luta nacionalmente.

Nos bastidores, a burocracia negocia mudanças parciais nos ataques que permitam passá-los sem maiores crises de modo a que Dilma possa posar como quem faz “concessões” e a CUT como que consegue o “triunfo possível”. Ao mesmo tempo, essas direções sindicais defendem que o governo implemente um suposto “Plano de Proteção ao Emprego” (PPE), que na prática significa aceitar o rebaixamento salarial e subsídios patronais para evitar demissões. Desta forma, as medidas de ataque vão avançando no Congresso...

Faltou uma voz independente da burocracia para levar a luta até o final

Infelizmente não teve visibilidade nacional uma voz alternativa à burocracia que pudesse se dirigir aos milhões que se encontram nas bases dos sindicatos da CUT, da Força Sindical e da CTB, assim como aos milhões de terceirizados que já são os que mais sofrem com a precarização e as demissões, propondo um plano de mobilização sério para impor uma derrota ao governo. Por mais que essa voz hoje fosse minoritária, seria uma base para construir uma força que possa superar os limites impostos pela CUT e demais centrais.

Não adianta criticar e exigir da CUT para pequenos círculos de vanguarda e depois aparecer frente às massas como algo indiferenciado. Os sindicatos da CSP-Conlutas precisam mobilizar suas bases para exigir que a CUT passe das palavras à ação e adote medidas de luta à altura de sua força e dos ataques que estão em curso, dirigindo-se aos filiados dos sindicatos cutistas para convencê-los a passar por cima de suas direções se necessário.

O PSOL deveria utilizar seus postos parlamentares e suas figuras públicas como Luciana Genro para amplificar essa batalha. Entretanto, o PSTU se contenta em criticar e exigir da CUT em pequenos círculos, deixando os sindicatos restritos às lutas econômicas e às relações amistosas com a burocracia. E o PSOL nem mesmo em pequenos círculos busca delimitar-se, embelezando as intenções “de luta” das direções governistas, o que não pode mais que terminar em novas derrotas.

A partir do MRT temos lutado politicamente para que a CSP-Conlutas se constitua como um polo alternativo à burocracia na luta de classes. Temos buscado implementar na prática essa perspectiva nas estruturas em que militamos em São Paulo, como no Sindicato dos Trabalhadores da USP, onde nossas militantes estiveram entre as que foram agredidas pela brutal violência policial; em bancários, onde cumprimos um papel importante para obrigar a burocracia a paralisar várias agências; no metrô, onde fomos minoria na luta para que a categoria aderisse à paralisação; em professores, onde estamos impulsionando uma campanha que liga a demanda da greve ao questionamento da casta política; e no movimento estudantil, onde somos parte ativa da luta contra o sucateamento do ensino superior no Rio de Janeiro e integramos os protestos em São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Marília. Chamamos os trabalhadores e jovens que concordam com essa perspectiva a batalhar por ela junto conosco em sua estrutura de trabalho ou de estudo e no 2º Congresso Nacional da CSP-Conlutas, que ocorrerá de 4 a 7 de junho.




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