×

28A ABC PAULISTA | 28A mostrou a poderosa força dos trabalhadores do ABC

O dia 28 de Abril foi um dia histórico, sendo a maior paralisação nacional dos últimos 20 anos. O apoio massivo à luta dos trabalhadores contra as reformas e o governo golpista de Temer e a disposição de ir às ruas foram maiores do que a repressão policial, as prefeituras, e a tentativa da mídia para minimizar este dia.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Maíra MachadoProfessora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT

terça-feira 2 de maio de 2017 | Edição do dia

Um balanço feito pelos sindicatos aponta que cerca de 227 mil trabalhadores pararam na região do ABC na greve geral do dia 28. Esses dados não expressam os setores da educação e saúde, o que certamente aumentaria o número de trabalhadores que paralisaram suas atividades e não aceitaram as “ordens” dos prefeitos do ABC que queriam que fossem trabalhar a todo custo.

Ônibus, trens e trólebus estavam parados, cerca de 22 mil trabalhadores do sistema de transporte aderiram ao 28A no ABC, como publicamos na cobertura do Esquerda Diário. As agências bancárias tiveram 50% de adesão, e mais da metade da categoria apoiava a necessidade de paralisação. O setor do comércio regional foi o que mais sofreu impacto no dia, pois o movimento foi atípico.

Em Santo André, o principal centro comercial na famosa Oliveira Lima teve muitas lojas fechadas. Nos dados apresentados sobre as cidades da região, estima-se que cerca de 100 mil trabalhadores do comércio aderiram à paralisação, o equivalente de cerca de 80%. A cidade estava parada, a adesão passiva foi gigantesca.

A imensa classe operária industrial do ABC também paralisou importantes fábricas, chegando à adesão de 85% dos metalúrgicos, paralisando as cinco principais montadoras de veículos da região. Na Volkswagen, Mercedes-Benz, Ford, Scania (todas localizadas em São Bernardo) e a General Motors (São Caetano), 60 mil operários não foram trabalhar de uma base de 70 mil pessoas, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dirigido pela CUT.

Essa enorme força, se colocada em movimento desde o primeiro momento em que a greve foi anunciada, a partir de grandes assembleias em cada fábrica e comitês de base junto aos bairros e comunidades, poderia além de ter paralisado tudo, ter estado à frente de ações de rua e nos atos, pesando ainda mais nesse dia de combate, ao contrário do chamado feito pelas grandes centrais sindicais, de que ninguém deveria sair de casa. Essa linha, funcional à política da CUT e da CTB, de agitar “fora Temer” para desgastar o governo e não para derruba-lo, apostando tudo em sua estratégia “Lula 2018”, não responderá a necessidade emergencial do trabalhadores, que é vencer a luta para acabar com os ajustes.

Contra a mídia, os governos e a polícia, os trabalhadores entraram em cena

As prefeituras do ABC, com o PSDB à frente, seguiram a linha reacionária do Prefeito de São Paulo, João Doria, de se manifestar contra a greve geral. Orlando Morando, em São Bernardo, tentou conter a força dos trabalhadores, dizendo que "se faz necessário garantir que esses serviços funcionem de maneira ininterrupta, com a presença dos funcionários públicos nos seus devidos postos de trabalho. Os problemas políticos que atravessam o país não podem impedir os direitos do cidadão a serviços públicos, principalmente de uma cidade da grandeza de São Bernardo”, passando por cima com sua declaração, do sentimento real da população de que são justamente os ataques do governo que “impedem os direitos do cidadão” e não a luta dos trabalhadores.

Em Santo André o prefeito Paulo Serra, tentou esconder o impacto da greve geral, declarando em seu facebook "(...) Quero expressar o meu apoio a todos os trabalhadores que conseguiram chegar aos seus postos de trabalho e também aos que se esforçaram para cumprir com seus compromissos".

A efervescência da greve geral

Nos dias que antecederam o 28A, em todos os lugares se falava da greve geral. Nas panfletagens em cada fábrica, nos telemarketings ou nas universidades podíamos ouvir as declarações de revolta com os ataques e a vontade de parar contra as reformas. Também ouvimos muitas vezes que os sindicatos não estavam organizando a greve, o que significava concretamente se enfrentar com as chefias e os patrões de forma isolada, como foi o caso da ATENTO e da Firestone, em Santo André.

A disposição real dos trabalhadores não teve mais expressão pela política das centrais sindicais, que não usaram esse último um mês e meio para preparar uma verdadeira greve geral com tempo indeterminado e construir um plano de lutas efetivo para derrotar as reformas e o governo Temer.

Em Santo André, desde o início da manhã fria da última sexta-feira, estudantes e trabalhadores da UFABC, Coletivo LGBT Prisma junto às organizações de esquerda da região, como o MRT, a Juventude Faísca, MAIS e o Comitê Regional Contra a Reforma da Previdência e UJS (Juventude do PCdoB) se organizaram e bloquearam a Av. dos Estados. A Força Sindical, que não esteve nos preparativos da ação, participou do bloqueio, trazendo aparato, mas sem nenhum trabalhador das fábricas que dirige. Durante o dia, diversos pequenos atos se expressaram quase que espontaneamente nas cidades de São Bernardo, Santo André, São Caetano, Diadema e Mauá.

Enquanto a mídia oficial tentava negar a força da paralisação, em diversas manifestações no ABC, a polícia cumpriu seu papel repressor, como foi no bloqueio da Av. dos Estados, e também em São Bernardo, onde a apreenderam o carro de som do Sindicato dos Servidores, enquanto manifestantes fechavam a Av. Anchieta na altura do km 29 no sentido Litoral.

Unidade na ação sem misturar as bandeiras

Se a força dos trabalhadores já se fez pesar no país, mesmo com a falta de preparação pela base e um plano de luta concreto para organizar o 28A, a unidade para fechar avenidas, realizar cortes de rua e bloqueios, foi essencial para dar um recado de que estamos todos contra os ataques e o governo golpista do Temer.

Todavia, a maior ampla unidade para atacar com um só punho os inimigos dos trabalhadores não nos permite negar a realidade de muitas autopeças e fábricas menores, dirigidas pela Força Sindical em Santo André, como a Pirelli, Firestone, Sintrabor, Alcoa e a Tupi, onde o que tomou conta foi a indignação com os sindicatos, por não organizarem sequer assembleias de base para debater a participação na paralisação.

Na assembleia da General Motors, em São Caetano, a Força Sindical não colocou em nenhum momento a necessidade de ligar a greve geral com a demanda pela readmissão de mais de 400 operários que estavam em lay-off e foram demitidos nos últimos dias na montadora. Ao final do dia, Paulinho da Força, dirigente da mesma Força Sindical declarou abertamente sua perspectiva de negociar com Temer os direitos dos trabalhadores.

Nós, do Movimento Revolucionário de Trabalhadores junto à juventude Faísca, às mulheres do Pão e Rosas e professores da região, atuamos para que toda a energia que se expressou nos bloqueios de rua e em cada trabalhador que se negou a ir trabalhar no dia 28, se organizasse em cada local de trabalho e de estudo a partir de comitês de base que permitam que a luta seja tomada por nossas mãos. Assim, não ficamos dependentes da burocracia sindical, que atua com interesses próprios e faz de tudo para não perder o controle de sua base. No bloqueio da Av. do estado denunciamos a política das burocracias como no vídeo abaixo:

(Vídeo da Virgínia Guitzel, jovem trabalhadora da Saúde em São Bernardo do Campo no bloqueamento da Av dos Estados).

Se foi possível a maior ampla unidade com a Força Sindical, com a vereadora Bete Siraque (PT), uma dos onze políticos que estão na lista da Odebrecht, organizações de esquerda com muitas diferenças entre si, é por uma razão óbvia de que precisamos da força de toda a classe trabalhadora para derrotar as reformas, Temer e os capitalistas.

Mas nós do MRT não lutamos apenas contra as reformas. Lutamos para derrotar de uma vez por todos os capitalistas, para que os trabalhadores tomem para si a necessidade de realizar uma revolução que exproprie os patrões e garanta uma nova organização da sociedade, sob um governo operário que coloque a tecnologia e os avanços produzidos à serviço das necessidades da população. Porém, sabemos que essa ainda não é a perspectiva da maioria dos trabalhadores, por isso demos uma importante batalha pela organização a partir das bases, em cada fábrica, escola, universidade e local de trabalho, fortalecendo a confiança na auto-organização dos trabalhadores, para decidir um firme plano de luta que possa derrotar as reformas e o golpista Temer, que possui hoje menos de 4% de aprovação nacional. Sabemos que ainda hoje a maioria da classe trabalhadora confia na força do seu voto. Por isso, não nos opomos às eleições gerais, mas queremos uma eleição contra este regime político, uma eleição pra eleger os representantes de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que tenha como primeira tarefa anular todas as leis e reformas do governo golpista de Temer e dos governos anteriores e avançar pra debater todos os grandes problemas do país, garantindo o não pagamento da dívida pública, a reestatização de todas as empresas sob administração democrática dos trabalhadores, a reforma agrária radical, os impostos progressivos sobre as grandes fortunas, a redução da jornada de trabalho sem redução salarial e que todo trabalhador ganhe o salário mínimo do DIEESE.

Vimos que assim foi este dia nacional de greve geral, um primeiro passo nesta experiência, através da qual queremos debater com os trabalhadores que pararam seus locais de trabalho, que se enfrentaram com as ameças de corte de ponto, mas também com todos aqueles que se indignaram com o sindicato que não quis organizar um enfrentamento à patronal, com os milhares de desempregados que estão abandonados por suas direções para lutar pelo direito ao trabalho, e de forma paciente, com os que ainda confiam nestas direções para que possamos seguir a luta em defesa dos nossos direitos, recuperando os sindicatos e as entidades estudantis para as nossas mãos.

A tarde, junto a professores do Milliet, 8 de Abril e do Generoso fomos às ruas para panfletar o nosso chamado para a preparação de uma greve geral, até derrubar Temer e as reformas, justamente para demonstrar que os professores também querem ser parte ativa desta mobilização, mesmo sem a disposição de construção, da direção majoritária da APEOESP (Sindicato dos Professores)e em outra medida das correntes sindicais que não compuseram o ato mesmo tendo sido realizado uma amplo chamado .

Sabendo-se também que além da Reforma Trabalhista e da Reforma da Previdência, os professores estaduais serão muito afetados, também com a reforma do ensino médio. Além dos contratos de trabalho temporários, jornadas extenuantes, dificuldades de assumir cargo do último concurso devido a inaptidões de perícia e burocracias do governo do Estado, realidade já enfrentada hoje por essa categoria. Os professores do ABC não vão aceitar as reformas e ataques de Temer!

É sobre essa perspectiva que atuamos neste dia 28, junto às centrais sindicais onde se dispunham a mobilizar, e organizando ações próprias onde não apareceram. Agora seguimos exigindo das centrais sindicais que organizem um sério plano de luta, a partir das bases dos trabalhadores, com assembleias e plenárias em cada local de trabalho e estudo, para organizar um Encontro Nacional de delegados eleitos que lute por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana para impor aos capitalistas que paguem pela crise. Fazemos um chamado às organizações de esquerda da região do ABC a levantar uma política independente da burocracia e formar um polo de exigência que nos permita avançar na luta dos trabalhadores.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias