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24M: oportunidade perdida pelos sindicatos da educação para nacionalizar nossa luta

Grazieli RodriguesProfessora da rede municipal de São Paulo

sábado 27 de março de 2021 | Edição do dia

Imagem: divulgação

A última quarta-feira, 24 de março, foi chamado pelas centrais sindicais (CUT, CTB, Força Sindical, UGT, etc) de “Dia de Luta e Lockdown Nacional” em defesa da vida, da vacina, emprego e auxílio emergencial. Infelizmente o que se viu foram algumas ações pelo país, pequenos cortejos e carretas, algumas manifestações simbólicas, tímidas ações virtuais e paralisações parciais e pontuais de alguns setores como condutores de ônibus, por exemplo. Infelizmente algo muito aquém daquilo que seria necessário frente à crise sanitária e econômica que faz sofrer toda a classe trabalhadora.

No entanto, a pergunta que não quer calar é, esse dia foi de fato construído para ser um dia nacional de lutas à altura das nossas necessidades? A resposta mais que evidente é NÃO. O que se viu, ou não se viu, nos dias que antecederam o “dia de lutas” mostra isso. Apesar das dimensões nacionais dessas centrais com centenas de milhares de trabalhadores em sindicatos de todo o país filiados a elas, não vimos a construção de um plano de luta, construído em assembleias e reuniões virtuais ou presencias, onde fosse possível realizá-las com segurança. Não vimos sequer um chamado efetivo pelas mídias, para que as e os trabalhadores organizados nas bases dessas entidades ao menos tivessem conhecimento sobre esse dia. Mais uma oportunidade perdida de construir um verdadeiro dia de luta.

Leia mais: 24M-Sem-preparacao-na-base-mais-um-dia-de-luta-desperdicado-pelas-centrais-sindicais

A vacilante posição das Centrais, não favorece que trabalhadores e trabalhadoras que estão se expondo diariamente a um vírus que já matou 300.000 no Brasil se expressem e mostrem sua indignação através dos métodos históricos de luta da nossa classe, à exemplo das educadoras da Prefeitura de São Paulo em greve desde 10/02 contra o retorno presencial às aulas imposto por João Doria e Bruno Covas, ambos do PSDB.

O imobilismo das centrais foi seguido pelos sindicatos da educação. Lamentável pois, além de padecer dos efeitos da pandemia e da crise econômica com o conjunto dos trabalhadores, a Educação vem sendo alvo de ataques por Bolsonaro, governadores e prefeitos de todo o país há muito tempo e inclusive desde o início da pandemia. Alunos de todo o país tiveram o direito à educação roubado por governos que não garantiram condições de acesso ao ensino remoto. A PEC emergencial que pode congelar os salários de educadores e servidores públicos – inclusive da saúde – até 2036, avanço da privatização, proposta de implementar o ensino domiciliar, rebaixamento de conteúdos nos currículos e livros didáticos... a lista de ataques de ataques é longa e se soma ao recente corte de ponto ilegal e arbitrário que o PSDB realizou em São Paulo atacando educadoras em luta.

A pesar disso tudo, a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação) que é filiada a CUT, maior central do país dirigida pelo PT, também não fez diferente. Ela poderia ter sido parte de ligar o dia 24 com um amplo chamado em solidariedade às lutadoras na cidade de São Paulo. Ainda mais que no dia anterior, 23/03, muitos delas tiveram seu salário cortado pelo prefeito Bruno Covas e seu secretário de Educação Fernando Padula, por lutarem contra o retorno inseguro às aulas. Escandalosamente, no site da confederação não há nenhuma menção a esse ataque que deixa sem comida famílias de lutadoras.

Leia mais: Declaração do Movimento Nossa Classe Educação: Nenhuma mãe sem sustento por lutar. Contra o corte de salário de Covas e Padula.

Infelizmente os dois maiores sindicatos da educação no estado e no município de São Paulo seguiram a linha de imobilismo das centrais. O SINPEEM, dirigido de forma ilegítima por Claudio Fonseca, eleito com 90% de abstenção da categoria em eleições realizadas virtualmente na pandemia, apesar de filiado à CUT e à CNTE, tão pouco divulgou o “dia de luta”; assim como apesar de sua base estar em greve permitiu que mais um dia passasse sem qualquer apoio do sindicato às ações construídas pela própria categoria para fortalecer a greve e contra o corte de ponto. Sua direção nada faz para organização um fundo de greve às educadoras que não receberam salários e ainda desencoraja as ações de arrecadação solidária impulsionada por comandos de greve de trabalhadores da categoria.

Por sua vez, a APEOESP, Sindicato dos professores do Estado de São Paulo, maior da América Latina comandado por CUT/PT por mais de 30 anos e que, durante o retorno às aulas em meio à pandemia, fez reuniões de horas a fio organizando uma greve que não se deram o trabalho de construir nas bases da categoria, apenas midiaticamente; não fez sequer uma reunião para construção do 24M, mesmo em seu site não tem nada sobre o “dia e luta”. Isso à luz do retorno às aulas imposto por Doria, que fez com que centenas de trabalhadores da rede já tenham se contaminado e dezenas tenham morrido em decorrência da ausência de condições sanitárias combinada à política ineficiente de controle da pandemia por parte do PSDB.

Não bastasse a paralisia nas entidades de trabalhadores, vemos uma continuidade de ação também por parte das entidades estudantis. A UNE - União Nacional dos Estudantes, dirigida pelos mesmos partidos, fez um chamado para um dia de luta, apenas para o dia 30 de março, o que impossibilita a união entre trabalhadores e estudantes, que poderia vir a ser a faísca para enfrentarmos a fome, o desemprego e a morte de milhares de pessoas, imposta pelos governos federal e estaduais; somando forças num só punho contra toda a narrativa imposta pelos governos Bolsonaro e Mourão, Doria, Covas e todos agentes desse regime do golpe que busca nos fazer, estudantes e trabalhadores, a pagar pela crise capitalista.

Essa linha de atuação deixa vez mais claro que a grande preocupação das Centrais é encontrar seus espaços dentro do regime político pós-golpe, atuando de forma conciliatória com agentes do regime como os governadores, por exemplo. E particularmente CUT e CTB, dirigidas pelo PT e PCdoB, querem transformar toda a insatisfação e revolta contra a situação do país em esperança nas eleições de 2022 para poder eleger Lula. Como se pudéssemos esperar até lá para reverter o quadro de desemprego, miséria e mais de 2 mil mortes diárias pela Covid. Por isso, na prática, atuam para conter qualquer fortalecimento de resistência entre os trabalhadores e para evitar que as lutas se toquem, abandonando as suas bases à morte pela pandemia ou pela fome. As ações, ainda que pontuais, que vimos na quarta-feira mostram que se de fato houvesse disposição para construir a luta dos trabalhadores, por parte das centrais, haveria resposta dos trabalhadores.

Nós do Movimento Nossa Classe Educação e MRT seguimos afirmando, que contra Bolsonaro, Mourão, o Congresso, os governadores e prefeitos, além do STF e do conjunto de atores desse regime golpista, é extremamente necessário que possa vir da voz e da organização política da nossa classe um verdadeiro plano de lutas. Um plano construído com reuniões, plenárias e assembleias desde cada local de trabalho e estudo. Onde cada trabalhador e trabalhadora possam contar com toda estrutura dessas entidades que antes de qualquer coisa pertencem a nossa classe, para lutar pelo direito à vida, auxílio emergencial de pelo menos um salário-mínimo, medidas efetivas de combate à pandemia, testes massivos, quebra das patentes das vacinas para termos vacinas para todos, mais leitos no SUS, medidas de segurança sanitária para que os trabalhadores não se contaminem indo e voltando do trabalho. Mas também pela formação de comissões de segurança sanitária em cada categoria. Como no caso das escolas em que comissões assim, formadas pela comunidade escolar, junto com trabalhadores da saúde, possam decidir quando e como as escolas devam ser reabertas. E o enquanto não houver condições de reabertura segura das escolas que seja mantido o ensino remoto mas que seja garantido pleno acesso aos alunos. Nossa luta também é pela anulação de todas as reformas que nos roubam o direito de viver com dignidade pela exploração do trabalho.




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