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EDITORIAL | 2018 já começou: batalhar por uma alternativa anticapitalista e revolucionária para a luta de classes

As reformas escravistas do governo golpista de Temer dão o tom deste fim de ano. Como construir uma alternativa para os trabalhadores e a juventude sem repetir o caminho de conciliação de classes do PT em 2018?

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

terça-feira 28 de novembro de 2017 | 13:32

As reformas escravistas do governo golpista de Temer dão o tom deste fim de ano. Avançam na consolidação de uma situação reacionária, construída com a cumplicidade das grandes centrais sindicais como Força Sindical mas também CUT e CTB que negociaram pelas nossas costas, traíram e deram trégua aos golpistas. Não é à toa que sua principal liderança, Lula, clama pelo perdão ao golpe institucional. Está de olho em 2018, e nos acordos que vai ter que fazer com os mesmos que querem marcar nosso corpo a ferro, em especial do proletariado negro brasileiro, com a reforma trabalhista e da previdência.

Isso porque o PT sabe que, para salvar o capitalismo durante os anos de “bonança” econômica em que esteve no poder fez mil e uma alianças com a direita, colocando-a dentro de seu próprio governo, não para diminuir a desigualdade social que seus projetos sociais sequer chegaram a tocar, mas enriquecendo os banqueiros que “nunca haviam ganhado tanto dinheiro”. Em 2018, o PT, se derrotar Bolsonaro ou novos atores da direita brasileira, seguirá salvando os capitalistas, desta vez administrando os ataques históricos à classe operária brasileira, empreendidos por um ilegítimo presidente com 3% de aprovação.

Apesar de todo falatório de antes, de que parariam o país se houvesse reforma da previdência, não vemos as centrais moverem um fio de cabelo. A reforma da previdência já tem data para votação e nenhum plano de luta está anunciado. Esses burocratas preferem que o governo atual siga atacando para fortalecer a oposição como alternativa eleitoral.

2018 já começou porque a única coisa que querem os golpistas é acelerar os tempos pra implementar, agora sim, a reforma da previdência fazendo todo tipo de malabarismo pra parecer menos pior do que aquela do começo do ano que despertou a ira do gigante brasileiro, apesar das direções das centrais.

Porque a chamada “crise orgânica” que escancara a crise de representatividade no nosso país e outros mundo afora, desespera a burguesia brasileira que ora sim ora não cogita a possibilidade de que um lunático como Jair Bolsonaro esteja à frente do país, abertamente anunciando uma espécie de golpe militar pela via eleitoral. Mas também porque o PT que abriu espaço pra direita, assumiu os métodos da corrupção, não organizou uma luta séria contra o golpe institucional e traiu a luta dos trabalhadores contra as reformas, quer reconstruir seu orgulho vendendo a ideia de que derrotando Bolsonaro e as outras referências da direita nas urnas as coisas voltarão a ser como antes, o “gradualismo” que marcou a era petista voltará a acontecer.

Mas a crise econômica não perdoa ninguém, porque quem está no comando desta sociedade são os capitalistas. Vão descarregar sobre nós, é o que estão fazendo. E os governos, que nesta democracia dos ricos não passam de verdadeiros balcões de negócios para garantir os lucros dos patrões e empresários, vão se ajoelhar ante a burguesia, os mais de direita nos massacrando, os mais populistas atirando migalhas de suas mesas (enquanto os bancos e grandes empresas lucram como nunca) pra administrar uma sociedade que é dividida em classes.

A situação atual na qual chegamos e a necessidade de uma enorme luta contra as reformas e contra o próprio governo golpista de Temer devem nos fazer refletir sobre o fracasso do caminho da conciliação de classes.

Os interesses entre trabalhadores e patrões são antagônicos, e é por isso que a resolução que eles propõem é fazer contra reformas que nos esmaguem pra preservar os seus interesses.

Só retrocederam quando tremeram de medo das greves operárias que de norte a sul do país ecoaram o grito dos metroviários, rodoviários, professores, trabalhadores da saúde, bancários, metalúrgicos, carteiros e a juventude que carrega o sonho de junho de 2013 e a energia que veio das ocupações das escolas em todo o país. Este grito ainda se escuta do Rio Grande do Sul, eles seguem mostrando o caminho.

Todos aqueles que rechaçam Jair Bolsonaro, bem como as outras figuras da direita como Dória, Luciano Huck e tudo de pior que possa surgir, compartilham da mesma posição do Esquerda Diário e do MRT: é preciso enfrentar esta asquerosa direita brasileira.

Mas como uma organização revolucionária, afirmamos que é preciso ir além:

se eles querem impor o início de 2018, adiantando o debate eleitoral em uma polarização Lula x Bolsonaro, é porque, mais uma vez, querem destruir a possibilidade de uma “terceira via” ou um “caminho alternativo” entre um giro a uma maior degradação das liberdades de reunião, associação e protesto nessa “democracia” com um presidente que defende a ditadura ou um “mal menor” que vai administrar o capitalismo sufocando qualquer luta que surja do chão das fábricas e dos locais de trabalho pra questionar essa ordem vigente.

Os conchavos e acordos palacianos contra a decisão de parar o país e se enfrentar com os capitalistas, esta é a trajetória histórica do PT. A história já mostrou que os trabalhadores precisam construir o seu próprio caminho, separar suas bandeiras não somente das bandeiras da burguesia mas também das bandeiras que tentam confundir o caminho da classe operária em sua independência política, bandeiras reformistas e de conciliação.

Nesta perspectiva, nós do MRT viemos batalhando pra que o Esquerda Diário emerja como uma voz anticapitalista no Brasil, como parte da Rede Internacional de Diários, a serviço das principais batalhas contra os ataques mais sentidos pela classe trabalhadora, mas também encarando as necessárias respostas políticas à crise no país mantendo independência total em relação à Lava Jato e levantando a necessidade de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

É por isso que no último mês o Esquerda Diário vem sendo o polo mais dinâmico de concentração das principais denúncias operárias contra a reforma trabalhista, a principal ferramenta que contribui dia a dia com as greves no Rio Grande de Sul e um instrumento de denúncia do papel das centrais sindicais em relação à reforma da previdência, que já está na ponta da língua de todos os golpistas pra aprovar este ano, e que não podemos permitir que seja um presente de Natal pro governo Temer.

Exigimos das centrais sindicais a mais ampla frente única operária com plano de luta imediato, assembleias e reuniões em cada local de trabalho pra construir a resistência e impedir mais este enorme ataque, bem como a revogação da reforma trabalhista e todas as reformas e privatizações do governo Temer.

Com a Revista Ideias de Esquerda especial sobre os 100 anos da Revolução Russa queremos retomar as lições deste processo histórico não como lembranças do passado, mas como munição para o futuro, para construir uma esquerda com independência política.

Se aqui no Brasil é preciso dialogar e desconstruir a ideia de que o PT é de esquerda, também é preciso abrir uma discussão com as experiências internacionais de “governos de esquerda” como o Syriza na Grécia, aclamado em especial pelo MES-PSOL de Luciana Genro e pela maioria do PSOL, que na primeira oportunidade no poder aplicou um duro plano de ajustes contra os trabalhadores gregos. Caminho parecido está trilhando o Podemos espanhol ao se opor ao direito de auto-determinação do povo catalão? É o que se está desenhando. Estas experiências mostram que tentar humanizar o capitalismo com uma cara um pouco mais de esquerda é um beco sem saída pra classe trabalhadora.

Não levantar um programa de independência política e de ruptura com o capitalismo, mas sim de “democratização”, no Brasil significa repetir, como farsa, a tragédia petista.

Parece ser este o caminho seguido pela plataforma VAMOS, encampado por vários setores do PSOL, pelo MTST e exaltado em particular pelo grupo MAIS, que depois da traição das greves gerais pelas direções petistas, decidiram fazer um site e reuniões junto com figuras como Gleisi Hoffman, presidente do PT, Tarso Genro, importante dirigente do PT, e Vagner Freitas, presidente da CUT.

Acreditamos que o PSOL, para estar à altura dos desafios que a conjuntura brasileira coloca e ocupar o espaço aberto à esquerda do PT, deve lançar mão de um programa não de “democratização” mas verdadeiramente anticapitalista e revolucionário. Colocar centro na exigência de não pagamento da dívida pública e não sucumbir aos empresários na defesa da Lei de Responsabilidade Fiscal, por exemplo, seriam questões elementares. Não repetir as experiências falidas do neo-reformismo internacional, mas seguir o caminho por exemplo da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina que sem rebaixar o programa revolucionário vem avançando em influência, ainda que minoritária, em setores de massas, como mostraram as últimas eleições na Argentina com o PTS a frente. Temos orgulho também de no Chile com nossa organização irmã PTR ter feito escutar milhares de vozes anticapitalistas nas últimas eleições.

Construir um programa anticapitalista, baseado na luta de classes, pra ocupar este espaço entrando na disputa eleitoral rumo a 2018 com candidaturas anticapitalistas deveria ser a grande prioridade do Congresso do PSOL o que seria incompatível com fechar as portas justamente para os revolucionários, como vem ocorrendo.

O MRT segue reiterando seu pedido de entrada no PSOL, para batalhar por esta perspectiva anticapitalista e revolucionária mas também pra fortalecer a batalha pela construção de uma forte frente única operária pra derrotar as reformas. Ao mesmo tempo, estamos nos dando o desafio de bater os recordes já existentes do Esquerda Diário que cada vez mais emerja como a principal mídia de esquerda independente no Brasil.

A construção de alas revolucionárias no movimento operário e na juventude se complementam com a enorme ofensiva que viemos dando no movimento de mulheres com o Pão e Rosas, em uma jornada nacional de discussões em defesa do marxismo revolucionário, bem como com o lançamento do Quilombo Vermelho, uma nova agrupação de negros e negras anticapitalistas e revolucionários que teve em seu lançamento mais de 400 jovens e trabalhadores, encabeçado por Marcello Pablito, jovem dirigente operário e reconhecido lutador da questão negra no Brasil.

A todos os companheiros e companheiras que estão atuando conosco fazemos um forte chamado a assumirem a militância como parte de suas vidas e a batalhar junto com o MRT, nossas agrupações e contribuindo com o Esquerda Diário. Essas batalhas estão diretamente ligadas à tarefa apaixonante de construir um partido revolucionário internacionalista que lute pela revolução operária e socialista em todo o mundo.




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