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JUNHO 2013 | 17 de JUNHO: o dia em que a juventude em massa ganhou as ruas

O dia 17 de junho de 2013 virou o país do avesso. Era uma segunda-feira, mas dessa vez as ruas não estavam tomadas por ônibus e metrôs lotados, engarrafamento de carros nas ruas e o caos típico de São Paulo.O espaço físico foi tomado por uma multidão de jovens que, do dia pra noite, chacoalharam as ruas, os políticos, os preços. Modificaram a situação nacional, abriram uma nova etapa.

terça-feira 16 de junho de 2015 | 23:10

Não significa que o dia 17 foi fortuito ou sem bases materiais; pelo contrário, o dia 17 tinha o sabor de uma resposta à semana anterior, uma resposta de massas, profunda, da juventude. A semana anterior havia sido decisiva para esse desfecho.

No dia 11 e o dia 13 de junho haviam sido realizados dois atos de vanguarda reunindo setores estudantes universitários e secundaristas, setores da esquerda e movimentos sociais (sendo o mais importante nesse momento o Movimento Passe Livre). A demanda que unificava todos nesses atos era a luta pelo transporte público, a partir do aumento da passagem que foi para R$3,20.

O que marcou os dois atos, mas particularmente o ato do dia 13, no entanto, foi a tática do governo: utilizar a repressão policial do modo mais feroz com o intuito de desmoralizar a vanguarda que se reunia e acabar com os atos.

O dia 13 então ficou marcado naquele junho pela feroz repressão, contra manifestantes, transeuntes e até mesmo (e isso foi decisivo também) contra os jornalistas. Contraditoriamente, os editoriais da Folha e do Estadão daquele dia eram parte do plano e incentivavam a repressão, e jornalista Giuliana Vallone da TV Folha receberia um tiro de borracha no olho, deixando uma marca que simbolizou o erro da “tática” do governo.

Naquele final de semana, depois da quinta-feira do dia 13, foram dias para conversar com alguns companheiros que voltaram do ato, depois de tomar muitas bombas e balas de borracha. A sensação era de desespero. Um desespero grande, quase um sufoco. Parece que ter apertado demais no dia 13 só serviu para potencializar a força da resposta do dia 17. Como muitas vezes, o movimento cantou “amanhã vai ser maior”...só que dessa vez era com raiva e com vontade, e com confiança...dessa vez o movimento estava correto, foi maior.

Aqui reside uma lição importante da jornada de junho: a relação entre a vanguarda e a massa. Não existiria junho, ou não nos termos que se deu, sem uma vanguarda ativa em travar a luta pelo transporte nos dias anteriores. No entanto, o desdobramento de massas se relaciona com distintos fatores, que estão na base da situação econômica e social, que esteve prestes a explodir.

E enfim o vulcão entrou em erupção. Todos hão de lembrar o célebre dia 17. A concentração no largo da batata em São Paulo e em distintas capitais do país já anunciava como seria o dia: um mar de pessoas esperando para começar o ato. A sensação inédita para uma geração de participar de um fenômeno de massas é indescritível. Enquanto caminhava-se pelo ato, em outras avenidas que se entrecruzam se via massas de pessoas caminhando. A juventude estraçalhou naquele dia toda a marca da passividade do passado. Passaram a fazer história.

Naturalmente o dia 17 também colocou novas questões. A partir desse dia começou a se colocar o problema de “qual é a demanda”. O que unia a todos num primeiro momento era a questão do transporte público, mas a partir daquele período uma demanda (que era um pouco o reverso da primeira) ganhou ainda mais carne nos atos: “não é só por 20 centavos” tornou-se o slogan das mobilizações. O anseio dos jovens por mais transporte, educação, saúde, a luta contra a corrupção, enfim, distintos elementos que expressavam o questionamento profundo da juventude pelo seu futuro.

A poesia da mobilização também expressava os próprios limites. Ao não ser construída pelas estruturas de estudo e trabalho, não tendo organização e forma política clara que apontasse o caminho, o dia 17 e os dias seguintes das jornadas de junho serviram mais como um chacoalhar do que uma verdadeira resposta contra o governo, o regime político e mesmo todo o sistema capitalista de exploração e opressão da população.

Em todos os lugares do mundo, depois de um importante levante da juventude que se expressou no mundo árabe, nos indignados espanhóis, no Occupy Wal Street norteamericano e mais particularmente na América Latina, com os #132 mexicanos ou as lutas pela educação pública no Chile, a lição que ficou é que a juventude precisava não de uma resposta de negação da política, mas de uma resposta política efetiva, uma resposta revolucionária.

O capítulo seguinte, o dia 19, marcou uma vitória decisiva do movimento, com a queda no preço das passagens, mas o sentido de “não são só por 20 centavos” fez o movimento continuar por mais tempo e concretizar uma mudança decisiva na situação política nacional, que se expressa até o nossos dias. A base dessa mudança esteve naquele 17 de junho. Como disse um amigo certo dia, “ficou mais interessante viver no país depois daquele dia”.




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