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JUNHO DOIS ANOS DEPOIS | 15 DE JUNHO: Dois anos atrás os atos de “junho” entravam em semana decisiva

terça-feira 16 de junho de 2015 | 00:00

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Exatamente dois anos atrás, no dia 15 de junho, um sábado, a força das manifestações iniciadas duas semanas antes começavam a mudar como as elites e os governos lidavam com as mesmas. Apesar das tentativas de tratar os jovens que tomavam as ruas como uma “minoria de baderneiros”, suas reivindicações haviam ganhado a maioria da população. Havia que ceder. Como parte do especial do Esquerda Diário retomamos alguns eventos daqueles dias.

Dia 13, quinta-feira, as duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro amanheceram com a expectativa de grandes manifestações. Os maiores jornais paulistas estampavam editoriais defendendo um salto na repressão àquele epicentro de um movimento que se nacionalizava. A Folha dizia “É hora de pôr um ponto final nisso. Prefeitura e Polícia Militar precisam fazer valer as restrições já existentes para protestos na avenida Paulista, em cujas imediações estão sete grandes hospitais”, já o Estado dizia “Espera-se que [Alckmin] passe dessas palavras aos atos e determine que a PM aja com o máximo rigor para conter a fúria dos manifestantes, antes que ela tome conta da cidade”.

Horas mais tarde a PM paulista cumpriu com rigor a ordem, prendeu centenas. Quem portava vinagre ia em cana. Quem tinha uma câmera e tirava fotos era alvejado com balas de borracha. Diversos jornalistas saíram feridos, inclusive da mesma Folha de São Paulo que clamava por repressão.

Na mesma noite o famoso apresentador de TV Datena de um programa sobre violência conduzia uma enquete ao vivo se seus telespectadores “eram a favor das manifestações ou não”. Espantado com o resultado favorável, ordenou, ao vivo, uma nova enquete “se eram favoráveis a manifestação com baderna”. E novamente, para espanto, o resultado era amplamente favorável. Engasgado ele ao vivo mudou seu discurso para um discurso de reconhecer que o povo estava revoltado...

Horas depois na TV Globo, em meio ao mais importante programa jornalístico do país, o comentarista Arnaldo Jabor, atacava violentamente os manifestantes.

Direto de Paris, o governador tucano de São Paulo, Alckmin, e o prefeito petista Haddad, condenavam exclusivamente a violência dos manifestantes e em uníssono diziam “não revogaremos o aumento”.

No Rio de Janeiro o governador Sérgio Cabral dizia que os manifestantes eram “baderneiros” e um “movimento usado para fins políticos”.

Dormiu a elite naquela quinta-feira ainda com uma linha de ir para cima e silenciar o movimento. Porém como a enquete de Datena mostrara a juventude tinha ganhado o apoio da população. A imensa repressão de Alckmin daquele dia tinha jogado mais gasolina ao fogo, como depois muitos analistas reconheceram.

Nos próximos dias a elite foi passo a passo ensaiando uma nova linha, tentar dar sugestões ao movimento, tentar “pauta-lo” e os governos forçados a ceder no dia 19 à noite.

Além deste “histórico”, vale lembrar eventos daquele dia 15, que, junto a outros eventos que relembraremos nos próximos dias marcam a profundidade daqueles dias de junho, e como tocavam várias classes sociais, mudando a etapa política da luta de classes no país.

Dia 15, nas ruas por mais do que vinte centavos

As manifestações de junho não eram pautadas exclusivamente pelo transporte. Tocavam várias demandas por direitos sociais como educação, saúde, moradia, envolvia um questionamento aos políticos em geral e contra corrupção, bem como era um grito da juventude contra a homofobia, o machismo. Naqueles dias Marco Feliciano, dos mais retrógrados representantes da bancada religiosa, e aliado do governo Dilma, presidia a comissão de direitos humanos e buscava colocar em pauta temas como “cura gay” e o “estatuto do nascituro”, que dava um salto na criminalização do aborto.

Naquele dia manifestações contra o estatuto do nascituro, que se faziam presentes em gritos, palavras de ordem e cartazes em várias manifestações, foram organizadas em algumas cidades, especialmente na Praça da Sé em São Paulo e na Avenida Atlântica em Copacabana, no Rio.

Em Belo Horizonte e Brasília “junho” já ia se misturando com um novo aspecto que foi tomando as ruas nas próximas semanas, o protesto contra os gastos da Copa do Mundo em meio aos jogos da Copa das Confederações.

Brasília: naquele dia 15 as vaias chegam à classe alta

Outro evento memorável desta data foi a imensa vaia que o público no Estádio Mané Garrincha fez a Dilma quando seu nome foi anunciado. Confiante de que era “dono do país” o presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, que recentemente renunciou a seu cargo enquanto vários de seus sócios estão presos, se achou no direito de criticar os brasileiros que vaiavam a presidente Dilma dizendo “vocês não tem fair play”. Era como se os brasileiros se expressando politicamente atrapalhavam o evento comercial padrão Fifa. E era exatamente isto. Não faltaram lições a bala de borracha e gás lacrimogênio em todo o país para comprovar isso.

A este evento o petismo logo procurou analisar que se tratava de uma vaia de classe média, e tentou, enquanto não mudava de linha frente às manifestações buscar critica-las todas desde este viés. Porém, enquanto um setor mais bem remunerado da classe trabalhadora, e mesmo classe média e burguês vaiavam Dilma, nas ruas da mesma Brasília setores mais “populares” seguiam uma manifestação. As críticas aos governos tocavam todas as classes sociais. Dia 15 comprovava.

O ator fundamental seguia sendo a juventude e o protagonismo de suas reivindicações e nos próximos artigos e dias retomaremos outras datas daquele “junho” e algumas lições sobre este processo.




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