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NEM PT NEM PSDB | 10 verdades e mentiras sobre o “impeachment” de Dilma

Daniel MatosSão Paulo | @DanielMatos1917

terça-feira 17 de fevereiro de 2015 | 17:18

1. Trabalhadores e jovens que sentem um enorme descontentamento em relação ao governo do PT, que não são tucanos e muito menos direitistas, começaram a ver com simpatia o debate sobre o “impeachment” de Dilma, que vem ganhando mais peso nas redes sociais e na imprensa. Isso ocorre porque corretamente identificam no governo petista a responsabilidade pela crescente inflação, o aumento do desemprego, o risco de apagões, a farra de corrupção nas estatais etc. Conhecem um PT que não reverteu nenhuma das privatizações feitas pelos tucanos, e sim, pelo contrário, encontrou várias vias de seguir privatizando de forma velada, disfarçada, assumindo das mãos dos tucanos o controle da corrupção nos órgãos federais. E estão presenciando um verdadeiro estelionato eleitoral, com um governo que implementa um duro pacote de ajustes,incluindo a retirada de direitos trabalhistas, quando o que tinha prometido nas eleições foi exatamente o contrário.

2. Entretanto, o ato convocado para o dia 15/03, por mais que se esforce para aparecer como algo “espontâneo”, tem por trás tucanos e direitistas de toda a estirpe. São infestados de gente que gosta da ditadura militar, e sua proposta de impeachment é para levar o país mais à direita, no sentido contrário ao da justa indignação dos setores mais explorados e oprimidos da população.

3. Muitos trabalhadores jovens não têm clareza do que significaram os governos tucanos para o país na década de 90. Os tucanos, se estivessem no governo, estariam implementando um pacote de ajustes e ataques ainda mais duros do que os que estão sendo implementados por Dilma. Por mais que Aécio Neves também tenha dito na campanha eleitoral que não iria implementar ajustes nem retirada de direitos, mentia tanto quanto Dilma. É o que vemos em São Paulo, onde Alckmin, tucano de primeira linha, demite professores e coloca mais de 60 alunos em uma mesma sala de aula.

4. Esses bicudos de plumagem azul e amarela estão se utilizando dos escândalos da Petrobrás para defender uma privatização mais descarada e profunda do petróleo, retomando seu velho projeto da Petrobrax (com “X” para ser mais vendável aos estrangeiros), o qual havia sido derrotado pela grande greve de 1995.

5. A falta de água e o risco de apagão elétrico são um resultado das privatizações feitas pelo PSDB na década de 90, cujos capitalistas beneficiários foram escolhidos através de métodos que não autorizam os tucanos a criticar o mensalão e o petrolão petista.

6. Em resposta ao debate sobre impeachment impulsionado pela oposição burguesa, os “formadores de opinião” do PT (blogs, intelectuais, jornalistas, dirigentes sindicais e de movimentos sociais etc.) agitam o fantasma do “golpe de direita”. É o mesmo que fizeram quando as manifestações de junho de 2013 golpearam o governo. Essa é uma operação ideológica que tem o objetivo de constranger todo e qualquer questionamento ao governo Dilma pela esquerda, afirmando que por mais justo que seja esse questionamento, se mobilizar forças que debilitem o governo, terminará fazendo o jogo da direita. De acordo com essa “teoria”, nunca o governo do PT poderá ser questionado por uma mobilização independente dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre, pois sempre o PSDB estará à espreita para capitalizar, como ocorreu nas eleições do ano passado. Por incrível que pareça, inclusive setores de esquerda entram nesse jogo do PT, como é o caso do Partido da Causa Operária (PCO).

7. Na atual conjuntura política e econômica, é muito difícil se efetivar qualquer tentativa séria de impeachment contra Dilma. Não só porque ainda não existe nenhum indício concreto de corrupção que atinja a presidente, mas também porque os setores mais altos da burguesia e a própria cúpula do PSDB têm medo de uma maior polarização política nacional abrir espaço para um novo junho de 2013 ou algo inclusive mais profundo. Por isso, para alimentarem o fantasma do “golpe de direita”, os petistas conscientemente confundem a simpatia pela ditadura militar de boa parte dos manifestantes que integram os atos pelo impeachment e os trâmites jurídicos feitos pelo PSDB para justificar um eventual processo de impeachment no futuro (o que eles chamam de “3º turno”).

8. Mesmo que surja algum indício de corrupção que envolva diretamente a presidente, o impeachment é um mecanismo constitucional que delega sobre o Congresso Nacional – também completamente enlameado de corrupção – a atribuição de decidir sobre quem deve ou não seguir governando o país. Se tudo não terminar em mais uma pizza, no caso de uma decisão favorável à saída da presidente, quem assumiria seria o vice-presidente Michel Temer ou Renan Calheiros, ambos do PMDB, partido que também está atolado na lama até o pescoço. E se vier à tona qualquer envolvimento de Temer com a corrupção, quem assumiria o cargo seria o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, um direitista de primeira linha, inimigo destacado da luta democrática pelos direitos das mulheres e dos homossexuais. Ou seja, pela via do impeachment, vai ser sempre trocar 6 por meia dúzia, como ocorreu com o Fora Collor, quando as manifestações foram não foram capazes de barrar o avanço do neoliberalismo.

9. Marcelo (Pablito) Santos, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, chama os trabalhadores e a juventude a não participar do ato pelo impeachment convocado para o dia 15/03: “Ao invés de ir aos atos pelo impeachment de Dilma convocados pela direita, os trabalhadores e jovens que querem expressar sua indignação contra o governo do PT precisam se unir às manifestações que estão sendo convocadas contra os ataques aos direitos trabalhistas, contra a falta de água e o aumento das tarifas dos transportes. A esquerda precisa batalhar para unir todas essas demandas em uma só luta, organizando assembleias de base que preparem atos e paralisações unificadas. Chamamos o PSTU, as correntes da esquerda do PSOL, a Conlutas e as Intersindicais e exigirmos juntos que os sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais rompam com seu apoio ao governo petista e impulsionem uma mobilização consequente. Não podemos ter que escolher entre o “fantasma do golpe da direita” agitado pelo PT, que alimenta a passividade enquanto seu governo implementa o pacote de ataques e ajustes; ou os atos pelo impeachment convocados pela direita, que buscam debilitar o PT para fortalecer um projeto ainda mais de direita para o país. Precisamos batalhar por uma alternativa independente, baseada na força da mobilização dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre”.

10. Indagado sobre o que seria essa alternativa independente, Marcelo conclui: “Uma forte mobilização independente, que retome o espírito de junho de 2013 e das greves que sacudiram o país nos últimos anos seria capaz de lutar por respostas de fundo para demandas mais sentidas pela população. Cadeia e confisco dos bens de todos os corruptos. Petrobrás 100% estatal e sob controle democráticos dos trabalhadores que a fazem funcionar em aliança com a população. Que todo juiz, parlamentar, político ou funcionário de alto escalão ganhe o mesmo salário que um professor. Estatização de todo o sistema de abastecimento de água e luz sob controle dos trabalhadores e usuários. Revogação dos aumentos de tarifas contra o povo (água, luz, combustível, transportes), e em contrapartida aumento dos impostos sobre os grandes capitalistas e não pagamento das dívidas do Estado com os banqueiros para viabilizar os recursos necessários. Derrubada das leis que retiram os direitos dos trabalhadores. Aumento automático do dos salários de acordo com o aumento do custo de vida. Redução da jornada de trabalho sem redução de salários para que ninguém fique sem emprego. Fim do fator previdenciário para que todos se aposentem de acordo com o salário que recebem na ativa. Esse seria um programa capaz de unificar a atual indignação dos distintos setores explorados e oprimidos em um plano comum de luta. São medidas que, para serem realmente implementado, apontam claramente numa perspectiva revolucionária, de um governo dos trabalhadores e do povo pobre baseado na democracia das assembleias de base de suas organizações de luta”.




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